A reforma tributária que entra em vigor a partir de 2026 não muda apenas o nome dos impostos, nem funciona como uma troca de siglas em um quadro fiscal desgastado. Ela mexe na espinha dorsal da atividade econômica, altera a forma como produtos são precificados, reorganiza a relação entre fornecedores e contratantes e, principalmente, impõe uma exigência inédita ao empreendedor brasileiro: profissionalização obrigatória.
No Vale do Paraíba, onde grande parte das empresas vive de margens apertadas e ciclos curtos de venda, o alerta já chegou aos escritórios de contabilidade. Não por acaso, o Grupo FN, sediado em São José dos Campos, passou a organizar encontros semanais para explicar o que, na prática, mudará no cotidiano de quem produz, vende, contrata e consome.
“A reforma simplifica o sistema, mas cobra preparo. Quem não acompanhar o ritmo vai sentir o impacto sem saber de onde veio”, afirma João Pedro Almeida, contador e especialista do grupo.
A premissa é simples: o novo modelo extingue cinco tributos — ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins — e reorganiza tudo em dois grandes blocos, o CBS e o IBS. Mas a simplicidade termina aí. A reforma cria uma nova lógica de circulação: tudo será tributado por fora, sem imposto sobre imposto, e com alíquotas uniformes. A transparência, tão desejada, virá acompanhada de uma consequência óbvia: ninguém mais consegue “esconder” o custo real da operação.
João Pedro é categórico ao apontar onde o calo aperta primeiro. “O pequeno que sempre trabalhou no improviso vai ter de aprender a calcular preço, fluxo e crédito. Muitos começam a empreender na correria, sem controle financeiro, sem nota, sem organização. Esse comportamento não sobrevive ao novo sistema.” A fala dele reflete um ponto sensível na região: a predominância de micro e pequenos negócios que faturam pouco, contratam pouco e operam, muitas vezes, no limite da informalidade. Siga o @diariodesaojose.com.br no Instagram.
Ele detalha o efeito de forma direta, sem eufemismos: “Os custos vão subir porque toda a cadeia sobe. Quem compra para revender vai pagar mais caro. Quem presta serviço, idem. E se o empresário não souber ajustar o valor final, ele perde margem sem perceber”. É exatamente esse tipo de descompasso — silencioso, lento e corrosivo — que preocupa especialistas.
O novo cenário também reposiciona o MEI e o Simples Nacional. Não se trata de extinguir modelos, mas de expor suas fragilidades diante de um sistema baseado em créditos tributários, rastreabilidade e padronização. “Dependendo do mercado, alguns MEIs terão de migrar para outros regimes. Outros vão precisar revisar contratos ou até reorganizar estrutura societária. Não é drama, é realidade”, afirma Almeida. Ele frisa que setores B2B sentirão primeiro, porque empresas contratantes não conseguirão mais absorver operações sem crédito válido.
Na vida do cidadão comum, a mudança será percebida no caixa do supermercado, no orçamento da reforma da casa, no contrato de um serviço eventual. Quando a cadeia encarece, o preço final aparece — e dessa vez, sem subterfúgios.
“O consumidor será afetado diretamente. Serviços tendem a ficar mais caros, e a compra do mês também. Isso repercute no bolso e, naturalmente, pressiona as empresas a reavaliarem salários e custos”, explica.
No Vale do Paraíba, onde coexistem desde gigantes industriais até microprestadores autônomos, a necessidade de planejamento ganha contornos ainda mais urgentes. A região, marcada por cadeias produtivas altamente especializadas e, ao mesmo tempo, marcada por milhares de pequenos CNPJs dependentes de fluxo diário, verá um redesenho natural de competitividade.
O especialista resume: “Todas as empresas serão impactadas, mas as do Simples e os MEIs precisam olhar para a reforma com mais atenção. Esse público é o mais vulnerável. Quem não planejar agora vai arcar com prejuízo depois”.
Embora o cronograma seja gradual — a transição começa em 2026 e só se completa em 2033 — especialistas alertam que a aparente calmaria é enganosa. Ajustes de margem, revisão de fornecedores, reformulação de contratos e redefinição de preços precisam começar imediatamente. “Quem deixar para entender em 2030 vai descobrir tarde demais que perdeu dinheiro por anos”, reforça.
Há pontos positivos: a cesta básica nacional será zerada, famílias de baixa renda receberão cashback de parte dos tributos pagos, e o país finalmente terá previsibilidade fiscal. Isso não elimina o desafio de adaptação, mas oferece uma perspectiva de longo prazo mais racional. Entre agora no canal oficial do Diário no Whatsapp e receba notícias em tempo real.
Para ajudar empreendedores e profissionais na travessia, o Grupo FN criou um guia gratuito sobre a reforma tributária, além de encontros semanais abertos ao público no Colinas Green Tower. “Cada caso é um caso. Não existe resposta universal. A orientação só funciona quando olha para a realidade do negócio. É isso que estamos oferecendo: clareza”, conclui João Pedro.
Foto de capa: Divulgação











