O governo federal dos Estados Unidos entrou oficialmente em shutdown nesta quarta-feira (1º), após o Congresso não aprovar o orçamento para o novo ano fiscal. A paralisação, a primeira desde 2019, expõe a divisão entre republicanos e democratas e já levanta preocupações sobre impactos em serviços públicos, relações diplomáticas e no mercado financeiro global.
O que está parado e o que continua
Sem orçamento aprovado, parte da máquina pública foi suspensa. Serviços considerados essenciais, como saúde, segurança, controle aéreo e defesa, seguem funcionando. Mas agências civis e programas sociais sofrem cortes ou atrasos. Estima-se que cerca de 750 mil servidores federais possam ser afastados ou trabalhar sem salário até a retomada do financiamento. O custo diário da paralisação é estimado em US$ 400 milhões (R$ 2,1 bilhões).
Parques nacionais, fiscalizações ambientais e operações administrativas estão entre os setores que mais sentem os efeitos imediatos. Cada agência federal adota um “plano de contingência” para definir o que será mantido ou suspenso.
Vistos e passaportes: impacto no Brasil
No Brasil, a Embaixada dos EUA informou que os serviços consulares — como emissão de vistos e passaportes — continuam funcionando “enquanto a situação permitir”. Entrevistas já marcadas devem acontecer, mas há risco de atrasos se o shutdown se prolongar.
A representação americana também comunicou que suas redes sociais não serão atualizadas regularmente durante o período de paralisação. Questionada sobre novos agendamentos, não detalhou se haverá restrições.
A briga política em Washington
O impasse repete o enredo de 2018/2019, quando o governo Trump ficou paralisado por 35 dias devido à disputa pelo financiamento do muro na fronteira com o México. Agora, o foco está nos subsídios de saúde.
- Os democratas acusam Donald Trump e os republicanos de “não protegerem a saúde do povo americano”.
- Os republicanos, por sua vez, dizem que os democratas “votaram pelo fechamento” e se recusam a apoiar um financiamento temporário.
O presidente da Câmara, Mike Johnson, chegou a afirmar que “mães e crianças perdem a nutrição do WIC, veteranos perdem assistência médica e soldados ficam sem salário”. Já os democratas reforçam que seguem dispostos a negociar, mas exigem concessões.
O Senado deve votar novamente uma proposta dos republicanos, que pretendem reapresentar a mesma versão dia após dia até que haja acordo.
E os mercados?
Para o head de estratégia de mercado da Ebury, Matthew Ryan, o momento traz memórias do shutdown recorde de 35 dias em 2018/2019.
“Como disse Mark Twain, a história não se repete, mas rima. Aqui estamos novamente, desta vez com o ‘Trump 2.0’ em impasse com o Congresso sobre a extensão dos subsídios de seguro de saúde”, analisou.
Até agora, o dólar opera levemente mais baixo frente à maioria das moedas, reflexo das incertezas. Ryan avalia que uma paralisação curta deve ser ignorada pelos mercados, mas um shutdown prolongado pode enfraquecer a moeda americana, aumentar a busca por ativos seguros como iene e franco suíço e até acelerar cortes de juros pelo Federal Reserve.
“O dólar perdeu 1,5% de seu valor durante o último shutdown. É plausível que vejamos repetição se a situação se arrastar”, disse o analista.
O cenário é reforçado por indicadores recentes: vagas de emprego subiram para 7,23 milhões em agosto, mas as demissões voluntárias caíram para 3,1 milhões, o nível mais baixo desde novembro, e a confiança do consumidor recuou ao menor patamar desde abril.
Além disso, a paralisação adia a divulgação de dados oficiais cruciais, como o relatório de empregos, esperado para esta sexta-feira.
Foto de capa: Elizabeth Frantz/REUTERS











