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Leilão de R$ 2,5 bi promete modernizar sistema de travessias de balsas em São Paulo

Com investimento bilionário e frota elétrica, PPP das Travessias Hídricas deve modernizar 14 linhas, reduzir emissões e transformar a mobilidade no litoral e no Vale do Paraíba

Leilão de R$ 2,5 bilhões promete revolucionar o sistema de travessias de balsas em São Paulo

O Governo do Estado de São Paulo realiza nesta quinta-feira (13), às 16h, na sede da B3 (Bolsa de Valores de São Paulo), o leilão de um dos projetos mais ambiciosos de mobilidade da história recente paulista — a Parceria Público-Privada (PPP) do Sistema de Travessias Hídricas.

Com investimentos estimados em R$ 2,5 bilhões ao longo de 20 anos, o projeto prevê a concessão à iniciativa privada de 14 linhas aquaviárias, que transportam anualmente cerca de 11 milhões de passageiros e 10 milhões de veículos. A proposta é modernizar completamente a frota, substituir embarcações a diesel por modelos elétricos, requalificar terminais e implementar tecnologias de baixo impacto ambiental.

Um marco logístico e ambiental

A PPP das Travessias Hídricas é considerada um marco de descarbonização do transporte aquaviário brasileiro. O plano prevê a substituição gradual da frota por 45 novas embarcações, sendo 41 movidas a eletricidade, em uma iniciativa inédita em escala estadual. Segundo o governo paulista, a mudança deve evitar a emissão de pelo menos 18 mil toneladas de CO₂ por ano, contribuindo diretamente para as metas climáticas e para a sustentabilidade do transporte público regional.

Os novos terminais serão padronizados, climatizados e acessíveis, com banheiros adaptados, áreas de alimentação e informação, além de espaços de espera mais confortáveis. O projeto ainda prevê obras complementares de infraestrutura e acessos, melhorias na pavimentação e na sinalização, além de suporte aprimorado para funcionários e usuários.

O Diretor-Presidente da Companhia Paulista de Parcerias (CPP), Edgard Benozatti Neto, destacou o impacto social e econômico da modernização:

“A modernização das travessias impulsiona o desenvolvimento regional, amplia o acesso a empregos e oportunidades e fortalece o turismo em todo o litoral paulista.”

As linhas contempladas

O sistema contemplado pelo edital cobre trechos estratégicos que conectam litoral, Vale do Paraíba e Região Metropolitana de São Paulo, garantindo integração entre polos turísticos e produtivos. As 14 linhas incluídas na concessão são:

  • São Sebastião – Ilhabela
  • Santos – Vicente de Carvalho
  • Santos – Guarujá
  • Bertioga – Guarujá
  • Cananéia – Continente
  • Cananéia – Ilha Comprida
  • Cananéia – Ariri
  • Iguape – Juréia
  • Bororé – Grajaú
  • Taquacetuba – Bororé
  • João Basso – Taquacetuba
  • Porto Paraitinga
  • Porto Varginha
  • Porto Natividade da Serra

As linhas do litoral paulista concentram grande parte do tráfego, especialmente nos eixos Santos–Guarujá e São Sebastião–Ilhabela, que enfrentam atualmente longas filas em feriados e alta temporada. Já as rotas do Vale do Paraíba, como Natividade da Serra e Paraibuna, têm importância histórica e estratégica para o escoamento regional e o turismo ecológico.

Quatro empresas na disputa

De acordo com o Governo do Estado, quatro grupos apresentaram propostas para o certame: Acqua Vias SP – Internacional Marítima Ltda., Comporte Participações S.A., Consórcio Travessias SP e CS Infra S.A..

Segundo apuração da Exame, duas propostas foram entregues presencialmente na B3 e duas de forma remota. O Consórcio Travessias SP é formado por seis empresas — CLD Construtora, Biancar Serviços e Locações, Camila Navegação Transporte, Engemais Empreendimentos e Participações, F. Andrei Neto Ltda. e Raff Geração e Comércio de Energia Elétrica.

O leilão definirá a empresa ou consórcio que ficará responsável por operar, administrar e manter o sistema durante duas décadas, sob fiscalização da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo).

Sustentabilidade, eficiência e impacto econômico

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) defende que o modelo de concessão é essencial para superar gargalos históricos de operação e infraestrutura:

“O sistema atual tem problemas de operação e infraestrutura, o que afeta diretamente a qualidade do serviço. A modernização é necessária para atender à demanda com segurança e eficiência.”

O novo modelo prevê reforço da frota em feriados e períodos de alta temporada, reduzindo o tempo de espera e garantindo mais viagens por hora. Além disso, em algumas travessias, como Santos–Guarujá, os pedestres passarão a ser isentos do pagamento de tarifa, algo inédito na operação.

A concessionária que vencer o leilão ficará com 20% da arrecadação das tarifas, enquanto 80% serão pagos pelo governo estadual, preservando a base tarifária atual e todas as gratuitades já existentes.

Para o Governo de São Paulo, a PPP não apenas moderniza a infraestrutura física, mas cria um novo ecossistema de mobilidade aquaviária, estimulando o turismo, o comércio e o desenvolvimento regional — especialmente nas regiões da Baixada Santista, Litoral Norte e Vale do Ribeira.

Investimentos sem precedentes

O projeto das travessias integra o Programa de Parcerias e Investimentos do Estado de São Paulo (PPI-SP), coordenado pela Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI). O programa é descrito pelo governo como o maior e mais abrangente pacote de investimentos com a iniciativa privada na história de São Paulo, com uma carteira superior a R$ 550 bilhões em projetos nas áreas de mobilidade, rodovias, saneamento, energia e desenvolvimento social.

“O fortalecimento das regiões turísticas depende da cooperação entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil. Projetos como este aumentam a competitividade do território e consolidam o turismo e a mobilidade como motores do desenvolvimento regional”, afirmou Roberto de Lucena, secretário estadual de Turismo e Viagens.

Impacto direto para o Vale do Paraíba

Para o Vale do Paraíba, o projeto tem um papel simbólico e estratégico. As travessias de Paraibuna, Varginha e Natividade da Serra, que há décadas operam com frota limitada e defasada, receberão novas embarcações elétricas e infraestrutura modernizada, com acesso facilitado e padrão de serviço unificado com o litoral.

A modernização das linhas promete integrar as regiões serranas ao eixo litorâneo, promovendo não apenas melhorias logísticas, mas potencial turístico e econômico. Para as populações locais, a expectativa é de melhor mobilidade e maior segurança no transporte diário.

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