Quase metade dos brasileiros adultos está inadimplente, de acordo com dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Historicamente, esse é um cenário comum na relação do brasileiro com o dinheiro. E o motivo, além das desigualdades sociais, pode estar em uma educação financeira falha durante a infância.
Ensinar educação financeira desde a primeira infância não é exagero: é prevenção. Quanto antes a criança entender o valor do dinheiro, mais cedo cria noções de responsabilidade, escolhas e limites. Um simples cofrinho ou a decisão entre dois brinquedos já ensina que recursos são finitos e que gastar envolve renúncia.
Os hábitos de consumo começam a se formar por volta dos 7 anos. Se a criança cresce sem contato com esses conceitos, tende a repetir padrões de impulsividade e endividamento que vê em casa. Ao contrário, quando aprende a diferenciar desejo de necessidade, desenvolve autonomia e senso crítico diante do consumo.
Educar financeiramente não significa falar de boletos ou planilhas, mas traduzir no cotidiano: poupar parte da mesada, entender de onde vem o dinheiro dos pais, ou mesmo participar de pequenas decisões familiares. É um investimento de longo prazo que transforma o futuro adulto em alguém mais consciente e preparado para lidar com desafios econômicos.
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“Aprender a lidar com o dinheiro, ter responsabilidade nos gastos e saber gerenciar os ganhos para conseguir criar uma reserva financeira são habilidades que precisam ser trabalhadas desde criança. Senão, na idade adulta essa pessoa provavelmente terá dificuldades para se manter longe das dívidas”, alerta a editora de Matemática da Aprende Brasil Educação, Janile Oliveira.
Trabalhando com educação financeira para crianças e adolescentes, ela explica que não há idade mínima para que os pequenos comecem a ser ensinados sobre o valor do dinheiro.
“As crianças não são miniadultos e é claro que é preciso adaptar a linguagem e a abordagem, mas não podemos tratá-las como seres incapazes de compreender como o dinheiro funciona”, diz.
A especialista indica seis atividades lúdicas que podem ajudar a começar essa conversa ainda na primeira infância.
Personalize um cofrinho
Ter seu próprio cofrinho pode ser o primeiro passo para que a criança aprenda a poupar dinheiro. Isso pode ser feito com materiais reaproveitados, como latas, caixas ou potes plásticos. Envolva a criança na atividade e convide-a a pintar esse cofrinho, colar adesivos e adereços como olhos, orelhas, nariz, enfim.
A ideia é usar a criatividade e, ao mesmo tempo, mostrar que o cofrinho é um item importante para o dia a dia. “A segunda etapa é definir um destino para o dinheiro que for economizado com a ajuda do cofrinho. Pode ser um passeio, um brinquedo ou outra coisa que a criança queira muito. Por fim, comecem a alimentar esse cofrinho com moedas e só abram o objeto quando ele estiver cheio o bastante para atingir aquele objetivo”, detalha.
Simule um supermercado
É fundamental que a criança participe das atividades de rotina da casa, como ir ao supermercado. Além disso, é possível ensiná-la sobre o valor do dinheiro montando uma lojinha em casa, com itens do cotidiano, como frutas, brinquedos, caixas de leite e outros alimentos.
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“Vocês podem, juntos, desenhar papéis coloridos que serão usados como dinheiro e etiquetas de preço para cada um dos itens. Depois, os papéis desempenhados por cada um podem variar entre cliente, caixa ou vendedor, por exemplo. Assim, os pequenos aprendem sobre troco, pesquisa de preços e limite de dinheiro”, sugere.
Ensine sobre necessidades e desejos
Escolha alguns objetos em casa, como alimentos, brinquedos, roupas, sapatos, livros e celulares. A brincadeira consiste em perguntar para a criança, um por um, se determinado item é uma necessidade ou apenas um desejo.
“Pergunte a ela: ‘isso é algo de que você realmente precisa ou é algo que você quer porque acha legal ou gostoso?’. Depois vale conversar sobre como alguns itens podem ser desejos ou necessidades, dependendo do contexto em que são comprados. Um celular, por exemplo, é uma necessidade, enquanto ter o celular mais moderno pode ser apenas um desejo”, comenta Janile.
Conte histórias
Os livros são importantes aliados para ensinar às crianças sobre dinheiro. Mesmo histórias clássicas podem ser trabalhadas nesse sentido. João e o Pé de Feijão, A Cigarra e a Formiga e Os Três Porquinhos, por exemplo, servem como pano de fundo para discutir decisões financeiras, poupança e trabalho. Essa atividade pode ser potencializada pedindo para que a criança conte suas impressões sobre as histórias ou mesmo faça desenhos sobre cada uma delas.
Peça ajuda
Crianças não devem ser envolvidas na resolução de questões familiares complexas, como uma dívida alta, mas precisam ser chamadas a contribuir com decisões simples do cotidiano, como o que comprar no supermercado.
“Você pode fazer isso na hora da compra, mostrando que itens precisam ser comprados e pedindo ajuda para tomar decisões equilibradas. É claro que isso deve ser feito de maneira controlada, sempre ensinando sobre o valor do dinheiro”, completa Janile.
Fale sobre planejamento, organização, ambiente e saúde
Educação financeira não se trata apenas de dinheiro, mas de comportamento, saúde emocional e física, alimentação saudável, planejamento, organização e bons hábitos de consumo. Além disso, a educação financeira pode ser conectada à sustentabilidade e ao cuidado com o ambiente.
Ao adotar práticas como o consumo responsável, o reaproveitamento de produtos e a redução do desperdício, as crianças entendem que suas escolhas financeiras impactam não só o próprio bolso, mas também o planeta. A intenção de integrar educação financeira à sustentabilidade, desde a infância, é formar cidadãos críticos, capazes de tomar decisões equilibradas que vão além do interesse individual.
Foto de capa: Divulgação











