O atropelamento que resultou na morte de Thais Bonatti, de 30 anos, em Araçatuba (SP), escancarou mais uma vez o abismo entre o sistema de justiça e a realidade de quem anda de bicicleta para trabalhar. A jovem foi atingida por uma caminhonete dirigida pelo juiz aposentado Fernando Augusto Fontes Rodrigues Júnior, de 61 anos, na manhã de quinta-feira (24), e morreu na madrugada de sábado (26) após complicações médicas graves.
O detalhe revoltante: o ex-magistrado estava embriagado, com uma mulher nua no colo, e mesmo assim responde em liberdade após pagar fiança de R$ 40 mil.
Em nota divulgada à imprensa, a família do juiz aposentado afirmou que ele não irá se manifestar publicamente por orientação jurídica e em respeito ao sigilo do inquérito. O texto lamenta o ocorrido, presta solidariedade à família de Thais e diz que o ex-magistrado está colaborando com as autoridades. “Acredita que a verdade será integralmente apurada”, diz o documento, que ainda reforça que o debate público “deve ocorrer sem distorções nem espetacularizações”.
O silêncio, no entanto, contrasta com as evidências reunidas pela investigação. Segundo a Polícia Militar, imagens mostram que a mulher que estava com o juiz subiu em seu colo dentro da caminhonete e começou a tirar a roupa instantes antes do atropelamento. Mesmo com ela ainda em seu colo, o veículo foi acelerado bruscamente, atingindo a vítima que seguia de bicicleta para o trabalho.
Com a morte de Thais, o caso passou a ser tratado como homicídio culposo na direção de veículo automotor, agravado por embriaguez, segundo o Código de Trânsito Brasileiro. A pena mínima para esse tipo de crime é de cinco anos de prisão, mas, até o momento, o réu responde em liberdade.
O atropelamento
O acidente ocorreu na Avenida Waldemar Alves, quando Fernando parou a caminhonete Ford Ranger próximo a um supermercado. Segundo o boletim de ocorrência, o veículo foi acelerado de forma repentina na contramão, no momento em que a mulher tentou se sentar sobre ele no banco do motorista.
Thais, que seguia de bicicleta para o trabalho, foi atingida em cheio. Ela sofreu traumatismo craniano, fraturas na pelve e passou por duas cirurgias na Santa Casa de Araçatuba. Durante os procedimentos, sofreu duas paradas cardíacas. O óbito foi registrado às 1h27 do sábado (26).
Testemunhas relataram que o juiz apresentava sinais evidentes de embriaguez: fala desconexa, desorientação e forte odor de álcool. Um exame clínico confirmou que ele dirigia sob efeito de bebida alcoólica.
Liberdade garantida pelo contracheque
Apesar da gravidade da ocorrência, o juiz aposentado foi liberado na sexta-feira (25), um dia antes da morte da vítima, após pagar R$ 40 mil de fiança. O caso gerou forte comoção em Araçatuba. Familiares e amigos da vítima se reuniram em vigília em frente ao hospital. O irmão da jovem, William de Andrade, desabafou em entrevista à TV local:
“A gente está constrangido. Ele atropelou minha irmã bêbado, com uma mulher no colo, e foi liberado. Como é possível?”
Fernando Rodrigues Júnior se aposentou em 2019, após atuar na 1ª Vara Cível de Araçatuba. De acordo com o Portal da Transparência do Tribunal de Justiça de São Paulo, recebeu R$ 917 mil brutos apenas no primeiro semestre deste ano, com contracheque líquido de R$ 781 mil — média de R$ 130 mil mensais.
Hoje atua como advogado, mas está impedido de atuar justamente na comarca onde o crime ocorreu.
Foto: Divulgação
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