Em uma tentativa estratégica de driblar os efeitos das tarifas comerciais impostas pelo governo dos Estados Unidos, a Embraer propôs transferir a produção do cargueiro militar KC-390 para o território norte-americano. O anúncio foi feito nesta terça-feira (5) pelo presidente da companhia, Francisco Gomes Neto, que destacou a proposta como parte de um pacote de contrapartidas para reverter o cenário tarifário atual. A palavra-chave em torno da negociação — Embraer — ganha novo peso diante da pressão financeira enfrentada pela fabricante brasileira.
“Estamos em conversas avançadas com um parceiro relevante nos Estados Unidos para esse projeto. Continuamos acreditando e defendendo firmemente o retorno à política de tarifa zero para a indústria aeroespacial global”, afirmou Gomes Neto.
A proposta envolve um investimento de até US$ 500 milhões e prevê a geração de aproximadamente 2,5 mil empregos diretos nos EUA. A ideia é que, ao produzir localmente o modelo encomendado pela Força Aérea Brasileira, a Embraer consiga isenção da tarifa de 10% atualmente em vigor — mesmo que já tenha sido poupada do acréscimo complementar de 40% que passa a valer nesta quarta-feira (6).
Apesar do esforço de internacionalização industrial, os impactos das tarifas já se fazem sentir. “Até o momento, temos 20% do impacto das tarifas já sendo sentidas no nosso fluxo de caixa — e é por isso que esperamos um impacto maior no segundo semestre deste ano. Por isso que temos um Ebit moderado só para reafirmar nossas estimativas”, disse o executivo. A empresa segue projetando uma receita total entre US$ 7 bilhões e US$ 7,5 bilhões para o ano, com margem Ebit ajustada de 7,5% a 8,3%.
Mesmo com receita recorde, Embraer sente efeitos das tarifas e tem prejuízo de R$ 53 milhões no segundo trimestre
No segundo trimestre de 2025, a Embraer registrou prejuízo líquido de R$ 53,4 milhões, revertendo o lucro de R$ 415,7 milhões no mesmo período do ano anterior. Ainda assim, a receita saltou 30,9% e alcançou R$ 10,3 bilhões — número recorde para um segundo trimestre na história da empresa.
A proposta de produzir o KC-390 em solo americano faz parte de um plano mais amplo da Embraer, que inclui também a importação de US$ 21 bilhões em peças e componentes dos Estados Unidos ao longo dos próximos cinco anos, além da expectativa de exportar cerca de US$ 13 bilhões em aeronaves para o país no mesmo período. O saldo — positivo em US$ 8 bilhões — seria usado como argumento adicional para justificar a isenção tarifária.
Atualmente, a empresa já emprega mais de 2.500 pessoas nos EUA, com unidades produtivas em Melbourne e Jacksonville, na Flórida, além de cinco centros de manutenção. Estima-se que os contratos com fornecedores norte-americanos movimentem outros 10 mil empregos indiretos.
O cargueiro KC-390, maior avião já produzido no Brasil, é um modelo multifunção capaz de operar em pistas não pavimentadas, transportar até 26 toneladas e atingir velocidade de 870 km/h. Desenvolvido em parceria com a Força Aérea Brasileira (FAB), ele já foi selecionado por 11 países, entre eles Portugal e Coreia do Sul.
Mesmo com desempenho sólido no setor civil — onde os jatos da série E175 dominam a aviação regional americana —, a Embraer continua vulnerável ao clima político e comercial entre Brasil e Estados Unidos, especialmente em tempos de instabilidade entre os governos de Lula e Trump.
Embraer aposta que o projeto do KC-390 nos Estados Unidos poderá servir como ponte diplomática e econômica, atenuando os efeitos das tensões bilaterais e preservando seu posicionamento num dos mercados mais estratégicos da aviação mundial.
Foto: Divulgação
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