Entre 2016 e 2024, o número de idosos que utilizaram a internet aumentou de 6,5 milhões para 24,5 milhões, representando um crescimento de 278%. Esse aumento reflete uma mudança significativa: em 2016, 44,8% das pessoas com 60 anos ou mais estavam on-line; em 2024, esse percentual subiu para 69,8%. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em julho deste ano.
Esse crescimento, embora positivo, também levanta preocupações sobre a vulnerabilidade a golpes on-line que pessoas dessa faixa etária tendem a ter, como mostra uma pesquisa do DataSenado, divulgada em abril deste ano, que concluiu que 16% das vítimas de golpes financeiros virtuais têm 60 anos ou mais.
O especialista em Segurança Digital e professor de Gestão de Segurança Privada da EAD UniCesumar, Felipe de Melo, explica que, nos últimos anos, os golpes on-line evoluíram significativamente, tornando-se mais difíceis de identificar.
“Uma das evoluções mais preocupantes nos golpes digitais voltados aos idosos é o uso de deepfakes, que são áudios, imagens ou vídeos gerados por inteligência artificial capazes de imitar com incrível realismo a voz e o rosto de outra pessoa. Com essa tecnologia, criminosos conseguem, por exemplo, clonar a voz de um filho ou neto da vítima e simular ligações pedindo dinheiro com urgência: o chamado golpe do falso familiar com voz realista”, pontua.
Até mesmo vídeos de celebridades ou figuras públicas recomendando investimentos fraudulentos, ou sorteios inexistentes são produzidos hoje em dia. Por isso, Melo ressalta a importância de sempre consultar sites confiáveis e, em caso de ligações de números estranhos, ligar diretamente para o familiar em outro número.
Os golpes virtuais mais comuns que atingem os idosos
Dentre os golpes, o professor destaca o “phishing” como um dos mais comuns. Trata-se do envio de mensagens fraudulentas por e-mail, SMS ou WhatsApp, que imitam comunicações oficiais de órgãos públicos, como INSS, Receita Federal ou bancos, por exemplo. O objetivo, segundo ele, é induzir o idoso a clicar em links maliciosos que capturam senhas, dados bancários ou documentos pessoais.
Outra estratégia usada pelos criminosos é o “golpe do amor”, também conhecido como “love scam”. Nesse caso, o especialista explica que são criados perfis falsos em redes sociais ou aplicativos de relacionamento para iniciar contato com o idoso. Com o tempo, o criminoso estabelece uma relação de confiança e afeto com a vítima para, posteriormente, inventar uma emergência financeira e solicitar “ajuda”. “Trata-se de um tipo de estelionato emocional altamente danoso, que mistura perdas econômicas com sofrimento emocional”, completa Melo.
O “golpe do falso advogado”, segundo o professor, também tem os idosos como um dos principais alvos. Aqui, os criminosos se passam por advogados para informas às vítimas que elas têm direito a receber uma herança, indenização, dinheiro de aposentadoria ou benefício judicial. Porém, para isso, exigem o pagamento antecipado de custos ou honorários.
“Eles utilizam nomes reais, documentos forjados e linguagem jurídica que parecem confiáveis. Para se proteger, é essencial desconfiar de pedidos de dinheiro, confirmar a existência do processo no site do tribunal e verificar a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)”, alerta Melo.
Já as fraudes bancárias via QR Code são um clássico dos golpes financeiros, também direcionados a pessoas com 60 anos ou mais. “São links, imagens ou páginas falsas com QR Codes adulterados que direcionam pagamentos para contas de terceiros. Por serem operações instantâneas, muitas vítimas não percebem o golpe até que o valor já tenha sido transferido e os recursos dissipados”, explica Melo.
Como se proteger?
O professor Felipe de Melo lista as principais dicas para que os idosos naveguem na internet com mais segurança:
- Ative a verificação em duas etapas (2FA) em aplicativos de bancos, e-mails e redes sociais;
- Nunca anote senhas em locais visíveis ou as compartilhe com terceiros, mesmo sob pretexto de “ajuda técnica”;
- Não clique em links de e-mails ou mensagens de origem desconhecida;
- Jamais repasse códigos recebidos por SMS, como os utilizados por WhatsApp ou aplicativos bancários;
- Ignore ligações pedindo dados bancários, senhas ou informações pessoais. Instituições sérias não fazem esse tipo de solicitação por telefone;
- Nunca baixe programas, aplicativos ou arquivos enviados por desconhecidos;
- Não preencha cadastros ou formulários on-line sem verificar se a página é verdadeira e segura;
- Compre apenas em sites confiáveis, preferencialmente com reputação verificada em sites como Reclame Aqui e Procon;
- Evite promoções “boas demais para ser verdade” e desconfie de sites que pedem pagamento somente via Pix;
- Não aponte a câmera do celular para QR Codes enviados por mensagens ou redes sociais sem confirmar sua origem;
- Instale apenas aplicativos da loja oficial, como Google Play ou App Store;
- Desconfie de qualquer mensagem ou proposta que envolva prêmios, sorteios, heranças ou promessas de dinheiro fácil.
Além dos golpes financeiros: fraude de identidade e fake news
Tão importante quanto a segurança financeira é a segurança com os dados pessoais. Segundo o especialista, criminosos usam informações como CPF, endereço, dados bancários e até fotos para abrir contas, contratar empréstimos ou criar perfis falsos.
“Para ajudar os idosos a se protegerem, é importante ensinar de forma simples e constante: mostrar como reconhecer sites confiáveis, explicar que não se deve passar dados por mensagem ou ligação, e reforçar que qualquer dúvida deve ser compartilhada com alguém de confiança. Além disso, consumir oficinas práticas, cartilhas visuais e conversas com linguagem acessível fazem toda a diferença. O mais importante é que o idoso se sinta seguro para perguntar, sem medo ou vergonha, assim a conscientização ganha importante papel preventivo”, ressalta Melo.
Ainda conforme ele, a exposição a fake news e conteúdos enganosos também representa um risco à segurança digital dos idosos, pois pode levá-los à desinformação. “Para se proteger, o primeiro passo é desconfiar de mensagens alarmistas, com erros de escrita, que tragam urgência e compressão de tempo, como aquelas que pedem para ‘compartilhar rápido. Também é importante verificar se a notícia aparece em sites de confiança ou em veículos jornalísticos sérios. Ensinar o uso de ferramentas simples, como pesquisar o título no Google ou consultar agências de checagem, como Lupa, Aos Fatos e Boatos.org, pode ser muito útil”, conclui Melo.
Foto: Divulgação
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