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Investigação apura possível omissão de socorro na morte de bebê em creche

Polícia trata caso de morte de bebê como homicídio culposo e apura contradições em horários relatados no boletim de ocorrência; família cobra justiça e presença de profissionais da saúde nas creches

Morte de bebê em creche de Jacareí comove cidade e levanta questionamentos sobre os protocolos de emergência

A morte da bebê Manuella Franco Marques, de apenas 1 ano e 3 meses, ocorrida no início da semana após um episódio de mal súbito dentro de uma creche municipal de Jacareí, deu início a uma investigação conduzida pela Polícia Civil que já reúne depoimentos, registros de horário, imagens de câmeras de segurança e laudos de atendimento. O caso foi oficialmente registrado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar, mas as autoridades apuram se houve omissão de socorro por parte da equipe da unidade educacional.

O episódio aconteceu na manhã de segunda-feira (28), na Creche Municipal Maria José Capelli, localizada no bairro Parque dos Príncipes. Manuella foi alimentada com papinha por volta das 10h20 e, segundo o boletim de ocorrência, colocada para descansar em um colchonete, junto a outras crianças. Cerca de 30 minutos depois, a bebê teria começado a vomitar e apresentado sinais de cianose — coloração arroxeada da pele, indicando possível insuficiência respiratória. As educadoras relataram ter realizado manobras de socorro, como sucção nasal, antes de acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

O Samu foi chamado às 11h48, conforme registros da Prefeitura, e chegou à unidade às 12h02. Apesar dos esforços da equipe de resgate, a criança foi levada sem vida à UPA Dr. Thelmo de Almeida Cruz.

Contradições entre relato oficial e versão da Prefeitura colocam cronologia em xeque

Um dos pontos centrais da investigação diz respeito à divergência nos horários dos acontecimentos. Enquanto o boletim de ocorrência aponta que a bebê começou a passar mal às 10h50, a Prefeitura de Jacareí contesta esse dado e afirma que os registros internos indicam que a primeira manifestação de mal-estar ocorreu apenas às 11h45 — praticamente uma hora depois. A diferença é determinante para entender se houve demora no acionamento do socorro médico.

“Temos registros que demonstram erro documental e eles serão apresentados nas oportunidades cabíveis, junto aos órgãos competentes”, afirmou a administração municipal em nota oficial. Imagens de câmeras de segurança externas à creche foram solicitadas para ajudar a estabelecer uma linha do tempo precisa do ocorrido.

A Polícia Civil também quer esclarecer se a ausência de um profissional de saúde na creche pode ter comprometido a resposta à emergência. A Prefeitura informou que a presença de profissionais da área médica em unidades educacionais não é obrigatória, e que a retirada desses profissionais das creches se deu por recomendação do Coren (Conselho Regional de Enfermagem), no ano de 2023.

Familiares lamentam a perda e pedem responsabilização: “Ela pagou com a vida”

Em meio ao luto, a família de Manuella cobra respostas e exige mudanças estruturais para evitar que casos semelhantes voltem a ocorrer. A avó da criança, Cláudia Aparecida Barreto Marques, emocionada, declarou: “Minha neta pagou com a vida dela, isso não pode acontecer com outras crianças. As autoridades têm que tomar providência para que não aconteça com outra família”.

Segundo ela, a bebê era saudável, havia passado recentemente em consulta pediátrica e não tinha qualquer condição pré-existente. A decisão de matriculá-la na creche visava permitir que a mãe retomasse a busca por emprego. “Toda família que coloca em uma creche é porque precisa. Não é porque não quer cuidar”, desabafou.

Além do pedido por justiça, a família defende que profissionais capacitados em saúde estejam presentes em tempo integral nas creches da cidade. “Tem que ter uma enfermeira experiente na creche. Aquelas pessoas que estão lá dentro têm treinamento para cuidar, não para socorrer”, disse Cláudia.

Secretária de Educação fala em “fatalidade” e promete apuração interna

A secretária municipal de Educação, Danielli Villar, lamentou o ocorrido e classificou a morte da bebê como uma “fatalidade muito triste para todos”. Segundo ela, os funcionários da unidade estavam capacitados em primeiros socorros e tentaram manobras de emergência até a chegada do Samu. “Prestaram todos os primeiros socorros, até respiração boca a boca uma delas tentou fazer”, relatou.

Villar afirmou que a Secretaria de Educação também instaurou uma investigação interna, paralela à da Polícia Civil, para verificar eventuais falhas operacionais e revisar protocolos. “A Vigilância já recolheu amostras da comida, a saúde está mobilizada para investigar. Vamos levantar o histórico da criança e todo o registro do dia”, afirmou.

Ainda de acordo com a secretaria, os funcionários diretamente envolvidos foram afastados para luto e apoio psicológico, e a creche passou a operar de forma adaptada com equipe técnica da própria Secretaria de Educação para acolher as famílias que precisaram manter os filhos na unidade.

Caso será avaliado por comitê de mortalidade infantil

O caso foi encaminhado ao Comitê de Prevenção da Mortalidade Materno-Infantil da cidade, que analisará os dados clínicos e administrativos do episódio. Além disso, a Delegacia Seccional de Jacareí conduz o inquérito, que inclui oitiva das funcionárias, análise de laudos médicos, vídeos de segurança e cruzamento de dados de atendimento.

Enquanto isso, a cidade ainda tenta assimilar a dor da perda de Manuella. Na porta da creche, pais, vizinhos e colegas de trabalho deixaram mensagens, flores e orações. A imagem da menina, sorridente, estampa as redes sociais dos que se solidarizaram com a dor da família. Ela foi sepultada na manhã de terça-feira (29), sob comoção.

Foto: Divulgação

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